82,1% das startups e scale-ups brasileiras ainda estão nos estágios iniciais em governança corporativa, mostra uma pesquisa elaborada pela Better Governance, consultoria especializada em governança. Foram avaliadas 148 empresas, 16% delas fintechs, em parceria com a Associação Brasileira de Startups, Distrito, BNDES Garagem, Cubo, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e InvestSP.
De acordo com a metodologia, há quatro etapas de maturidade: básico, em desenvolvimento, desenvolvido, e avançado. Entre os resultados, 39,8% estão no básico, 42,3% em desenvolvimento, e 15,5% já estão desenvolvidos. Para a consultoria, as fases “básico” e “em desenvolvimento” são consideradas estágios iniciais.
O relatório ainda aponta que 64% se autodeclaram nas fases mais avançadas. Apesar disso, pouco mais de 2% se encontram nesse patamar.
“Essa discrepância de visões – entre a autodeclaração e a avaliação externa – pode indicar que algumas empresas supervalorizam suas práticas internas, e que muitas acreditam que estão implementando medidas de governança efetivas quando na realidade estão apenas trabalhando nas demandas mais óbvias e aparentes”, afirma Fabíola dos Santos, head de Jurídico e Compliance da Accountfy. “Para atingir um nível de maturidade significativo, a empresa deve compreender o conceito da governança corporativa e aplicá-la como um todo. Somente assinar um termo de responsabilidade ESG não torna uma empresa sustentável, por exemplo. É necessário engajamento e compromisso, principalmente da alta administração, para se criar uma agenda com ações efetivas e que sejam objeto de revisão contínua”.
Na avaliação por competências, “divulgação e transparência” é um dos quesitos menos evoluídos, com mais de 60% das empresas no nível básico. Nesse sentido, segundo a Better Governance, o dado mostra que ainda há práticas de gestão de informação, assim como suas ferramentas, a serem aprimoradas pelas startups.
“Quando falamos de demonstrações de resultados e prestação de contas pelos administradores, a conformidade dos dados é essencial para que as startups reforcem seu compromisso com a transparência e tenham mais chances de receber investimentos. Sem uma ferramenta que padronize e auxilie na elaboração e divulgação desses resultados, a chance de haver inconsistências aumenta, e para empresas que estão em fases de busca de capital, é crucial não correr esse risco”, diz Fabíola.
No âmbito ESG e cultura, mais de 40% se encontram nas fases iniciais. Apesar da maior parte do desenvolvimento estar atrelada à formalização de atos societários, estatutos e contratos sociais, a implantação dessas práticas ainda não apresenta resultados satisfatórios, revela o relatório.
De acordo com a Better Governance, os resultados salientam a falta de conscientização em relação à necessidade de aprofundamento, entendimento e implementação de boas práticas de governança por parte dessas empresas. Entretanto, a consultoria afirma que esse cenário cria oportunidades para construção de planos de ação adequados para cada fase de maturidade.
Como avaliar a governança corporativa
O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) desenvolveu uma ferramenta gratuita para autoavaliação das práticas de governança de startups em parceria com um grupo de trabalho da Comissão de Startups & Scale-ups do instituto.
O sistema de avaliação funciona com o preenchimento de um formulário online, composto por 38 práticas de governança corporativa, que analisa a avalia a adesão das startups e scale-ups, considerando, inclusive, o estágio de evolução e o momento de cada empresa em particular.
Completando o preenchimento, a startup recebe um relatório automático com a pontuação de cada pilar (Estratégia & Sociedade, Pessoas & Recursos, Tecnologia & Propriedade Intelectual, Processos & Accountability), destacando pontos de melhoria.
Segundo o IBGC, “o objetivo é estimular as startups e scale-ups – inclusive aquelas não formalmente constituídas, ainda na fase de ideação do projeto – a refletirem sobre o seu contexto e a sua jornada de governança corporativa, em direção à adoção das melhores práticas. A plataforma é destinada a membros ou representantes dessas empresas, empreendedores e fundadores, executivos, investidores, conselheiros ou consultores de organizações escaláveis, de alto potencial econômico e inovadoras”.
O Instituto acrescenta que as informações preenchidas no sistema são utilizadas para pesquisas e publicações, mantendo o sigilo do nome da empresa e seus respondentes.
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