A gestão de pessoas na área financeira demanda um olhar atento no contexto atual de popularização do home office e tecnologias digitais.
O último levantamento sobre avanços no setor de RH da consultoria PwC confirma: 79% das empresas entrevistadas afirmaram que vão manter ou implementar o trabalho remoto e 23% delas vão ampliar a infraestrutura para quem está trabalhando de casa.
Portanto, líderes precisam ser criteriosos ao gerenciar os profissionais da área financeira, sobretudo, porque esses colaboradores acessam informações confidenciais das empresas e, agora, podem trabalhar fora dos limites físicos organizacionais.
Liderança e gestão financeira: como reter talentos?
Larry Fink, o Chief Executive Officer (CEO) da Black Rock, a maior empresa em gestão de ativos financeiros no mundo, todos os anos, publica uma carta norteadora dos princípios que criam valor aos seus principais acionistas.
Na edição de 2022, Fink destina uma seção especial ao “novo mundo do trabalho”, enfatizando as mudanças após a Covid-19 que intensificaram uma relação de confiança entre empregadores e funcionários.
“As empresas esperavam que os trabalhadores estivessem no escritório cinco dias por semana. A saúde mental raramente era discutida nos locais de trabalho. E os salários para aqueles com rendimentos baixos e médios mal aumentavam. Esse mundo acabou”, afirma o CEO da Black Rock.
Fink ainda reflete sobre a importância de inspirar os trabalhadores, impulsionando o conceito de prosperidade para todos, desde operadores a acionistas. “A rotatividade aumenta as despesas, reduz a produtividade e prejudica a cultura e a memória corporativa.”
A retenção e a gestão de talentos passa por uma análise complexa dos recursos humanos e como as pessoas e empresas podem se alinhar a ela no curto, médio e longo prazos.
Em abril de 2022, a consultoria McKinsey publicou o material “Em conversa: O papel do CFO no desenvolvimento de talentos”, no qual os executivos reiteraram que a alocação e desenvolvimento de pessoas nas posições corretas são tão importantes como qualquer outro investimento financeiro.
A capacitação é citada como uma estratégia que não apenas cria diferencial competitivo, mas também melhora o bem-estar dos funcionários.
Significado, propósito e dignidade do trabalho foram os outros três eixos citados pelos entrevistados para manter os funcionários produtivos e satisfeitos. Mesmo atuando diretamente nas finanças, seus líderes precisam sintonizar os colaboradores ao negócio e à sua missão. Kevin Carmody, o sócio sênior do escritório da McKinsey em Chicago, ao ser perguntado como fazer isso, responde:
“Os CFOs precisam usar dados para identificar lacunas de habilidades e entender o que precisa ser feito para aprimorar essas capacidades. Em segundo lugar, precisamos adotar um ponto de vista holístico — por exemplo, ensinar perspicácia financeira básica […].”
Para Carmody, “os CFOs também devem ajudar a desenvolver jornadas de carreira personalizadas e duradouras para que as pessoas, independentemente do cargo, possam realizar os seus trabalhos com mais eficiência e obter mais satisfação com as funções. Quando tudo isso é feito corretamente, você vê um aumento de desempenho. As pessoas têm uma mentalidade de dono e os índices de satisfação disparam”.
Pontos importantes da gestão de pessoas na área financeira
Conforme a pesquisa Insights América Latina em 2021, realizada pela Michael Page, uma das principais consultorias em recrutamento do mundo, com mais de 3 mil respostas de líderes, 74,5% preferem um sistema de trabalho misto, priorizando as áreas nas quais a operação não está relacionada ao uso de maquinários.
O estudo mostra que 43% das áreas financeiras adotarão o regime misto, sendo que os líderes do Brasil são os primeiros a citar a gestão financeira como passível de trabalho remoto.
Dessa maneira, a gestão de pessoas e retenção de talentos com foco nos profissionais na área financeira passa pelo desenvolvimento da digitalização, segurança cibernética e outras habilidades comunicacionais. Siga a leitura e veja alguns elementos que os líderes financeiros podem trabalhar em seus times:
-
Domínio de tecnologia
Se antes os registros financeiros e as contas eram feitos no papel, calculadoras ou em planilhas, agora eles podem ser armazenados e operados com tecnologias potentes e rápidas na análise dos dados.
Christian Grube, consultor em finanças corporativas da McKinsey na Alemanha, afirma, em entrevista, que “as taxas de adoção de tecnologia para usos financeiros aumentaram desde 2018, especialmente na automatização e análises financeiras avançadas”.
Segundo Grube, “ambas foram certamente aceleradas pela pandemia da COVID-19, quando muitas equipes financeiras tiveram que fornecer atualizações mais frequentes sobre caixa e perspectivas de negócios”.
Ankur Agrawal, consultor da McKinsey em New York, na mesma entrevista, afirma que a hora da digitalização nas finanças é agora, o que inclui usar ferramentas e recursos certos. Ele levanta a amplitude de habilidades necessárias para o time financeiro, desde estabelecer parcerias de negócios até mesmo a análise e engenharia de dados.
Então, os líderes devem proporcionar investimentos em equipamentos, acesso à internet, capacitação para os times e outros.
-
Idioma
As organizações, agora inseridas em um contexto predominantemente digital, podem expandir suas estratégias para o exterior e elevar a competitividade global.
Dessa maneira, os líderes precisam observar a proficiência em idiomas de suas equipes financeiras para prepará-las para a atuação no mercado internacional de trabalho, seja na comunicação e prestação de contas com estrangeiros ou para adaptação às exigências dos padrões globais de conformidade financeira e contábeis.
Afinal, os principais órgãos reguladores do mundo utilizam o inglês como idioma oficial. Financial Accounting Standards Board (FASB) e International Accounting Standards Board (IASB) são duas instituições referências na publicação de normas e princípios contábeis. Empresas no mundo todo seguem suas orientações em busca de padronização e excelência na gestão financeira.
-
Conformidade regulatória na gestão financeira remota
O departamento de finanças é repleto de dados sensíveis. Senhas, acessos bancários, movimentações financeiras e outras informações confidenciais podem ficar disponíveis para várias pessoas simultaneamente, exigindo responsabilidade e segurança.
Em um cenário com trabalhadores remotos, as empresas têm o desafio de manter a conformidade com a proteção de seus dados.
Susannah Hammond e Stacey English, especialistas em compliance, escrevem para a Reuters, que “embora os reguladores governamentais possam ser geograficamente neutros, ou seja, não importa para eles onde os funcionários estão trabalhando em uma jurisdição, todos os controles de conformidade e segurança devem ser igualmente eficazes, independentemente da localização”.
Isso quer dizer que o trabalho remoto ou híbrido não é uma justificativa caso haja alguma identificação de fraude ou outro desvio no padrão de compliance que a companhia promete seguir.
Sendo assim é preciso investir em soluções específicas à gestão financeira que permitam a proteção aos dados e outras táticas como: o uso de chaves individuais de acesso e a automação de processos.
A computação em nuvem é uma tecnologia que consegue atender a esses requisitos, pois permite alinhamento em tempo real e registro dos acessos.
Alguns softwares de gestão financeira ainda permitem uma versão para que auditores, internos ou externos, possam acompanhar as informações e ter acesso aos dados consolidados.
Dessa maneira, a digitalização e o trabalho remoto que poderiam ser uma janela para crises, tornam-se uma oportunidade para uma comunicação transparente e para o detalhamento da gestão financeira, desde que conduzida com soluções especializadas e de alta tecnologia.
Conheça o AccountCast: o podcast de inovação e insights para profissionais de finanças: contadores, controllers, tesoureiros, analistas de FP&A, conselheiros, CEOs e CFOs. Tudo sobre Governança Financeira de um jeito descomplicado!
2 Responses
[…] Pesquisas apontam que as áreas financeiras adotarão o regime misto na América Latina. O material da consultoria McKinsey, Em conversa: o papel do CFO no desenvolvimento de talentos, feita com executivos e membros de comitês de desenvolvimento de talentos, mostra que a flexibilidade do trabalho já está presente na agenda dos CFOs. […]
[…] as tendências sugerem que, diferentemente de substituídas, as funções tradicionais exigirão novas habilidades de seus profissionais, mostrando um cenário de mudanças para que o mercado de trabalhadores se adapte às novas […]