No ano de 2020 foram registrados 26 IPOs no Brasil, com captação total de R$117 bilhões, um número atrás apenas de 2007, quando houve o recorde de 64. Entretanto, muitos foram os IPO que frustraram os investidores, e por consequência, o valor das ações caíram em relação ao preço inicial.
Desse insucesso, muito se atribui às etapas anteriores aos lançamentos na bolsa, segundo a Comissão de Valores Mobiliários. Sendo assim, nota-se uma emergência no que diz respeito à governança, que estabelece normas e práticas visando à transparência e à equidade no relacionamento com os investidores e o mercado.
No quesito finanças, é ainda mais essencial a governança, demonstrando uma gestão profissional precisa, com controle interno, gerenciamento de riscos, retidão à legislação e evidências de crescimento dos negócios.
Continue a leitura para saber como a governança financeira está intimamente ligada a processos de IPO.
O que é governança financeira?
Como a governança financeira pode ser operacionalizada?
Aspectos das demonstrações contábeis na governança financeira
- EBITDA
- Análise de sensibilidade aos riscos
Governança corporativa e governança financeira: qual é a relação?
Exemplos de governança financeira
O que é governança financeira?
A governança financeira é o conjunto de boas práticas que legitimam a transparência nos processos financeiros e contábeis de uma corporação. Para empresas que buscam abrir capital na bolsa de valores ou aquelas que cuidam da sua reputação perante os investidores, a governança financeira é indispensável.
Em um modelo macro de governança, as finanças corporativas são onde as expectativas dos investidores estão ancoradas. Desta maneira, é necessário ter em plano um projeto de transparência e acesso às informações sobre a gestão financeira e a capacidade organizacional das contas.
Relatórios validados por auditorias independentes trazem ainda mais legitimidade e fortalecem a confiança entre ambas as partes: companhia e investidores. Para o processo de IPO, todos os detalhes importam, demonstrando não só uma saúde financeira, mas um comprometimento com o crescimento dos números e a legalidade em suas operações.
Como a governança financeira pode ser operacionalizada?
As empresas listadas em bolsa divulgam, trimestralmente, um informe no qual constam movimentação financeira, créditos vinculados, fluxo de pagamentos e outros pormenores.
A evolução desses informes, ao longo do tempo, calibra os múltiplos, que dão credibilidade aos investidores e acabam sustentando o preço das ações.
No IPO, o ideal é que a empresa se antecipe e se oriente de acordo com as exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Além dos relatórios trimestrais, a empresa deve adequar suas demonstrações contábeis nos modelos exigidos pelas instituições reguladoras de companhias abertas.
Afinal, os balanços e outros números financeiros de retrospecto trazem mais garantia e prenunciam que a companhia conseguirá manter-se na ordem vigente de transparência das empresas listadas na bolsa de valores.
Portanto, cabe uma maturidade na gestão financeira e na liderança da companhia quanto ao nível de detalhes dos relatórios financeiros, bem como no comprometimento da divulgação em datas precisas, previamente divulgadas.
Entre os balanços financeiros e outros documentos, cabem transparência quanto:
- Correlação entre o retorno líquido (lucro) e o patrimônio líquido, que é a base para o cálculo do ROE, sigla da expressão Return on Equity, que significa retorno sobre patrimônio líquido,
- Índices de endividamento e a qualidade da dívida (montante de longo prazo, de curto prazo e seu custo geral),
- Resultado financeiro (participação em outras empresas, atualização do capital social, aplicação do caixa, linhas de financiamento e correlação com o câmbio),
- Correlação entre a dívida líquida e a geração de caixa, para testar a capacidade de alavancagem e o fluxo de caixa financeiro, que dá condições para a viabilização do fluxo de caixa operacional.
Aspectos das demonstrações contábeis na governança financeira
Em seu último ofício circular, a CVM atentou-se às orientações quanto aos aspectos relevantes que foram observados como falhos nas demonstrações contábeis para o exercício social encerrado em 31/12/2020.
A CVM registrou que muitos processos de IPO vêm com fragilidades, chamou a atenção para as normativas anteriores e deu posição de destaque para o cálculo e evidência do EBITDA e a análise de sensibilidade ao risco.
EBITDA:
Do inglês Earnings before interest, taxes, depreciation and amortization temos a tradução literal “lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização”, também conhecido como LAJIDA.
Este indicador corresponde ao quanto a empresa está gerando com suas atividades unicamente operacionais, não levando em conta investimentos financeiros, empréstimos e impostos.
Desta maneira, o olhar corresponde à produtividade e dá uma dimensão de evolução do negócio ano após ano. Segundo a circular da CVM, inúmeros pedidos de IPO apresentam fragilidades na demonstração deste dado e na consistência dos números.
Toda a divulgação do EBITDA deve ser feita de forma consistente e comparável com a apresentação de períodos anteriores e, em caso de mudança, deve ser justificada com descrição pormenorizada.
Análise de sensibilidade aos riscos:
Neste tópico, a CVM reforça a importância da divulgação qualitativa e quantitativa dos riscos existentes, com a descrição de cada um deles, o grau de exposição da companhia e como eles surgem. Além, é claro, dos processos para gerenciamento dos riscos, mostrando como o resultado e o patrimônio líquido seriam afetados.
A CVM ainda destaca os reflexos da Covid-19 e os tratamentos em relação aos créditos fiscais como itens a serem observados pelos responsáveis nas demonstrações financeiras e contábeis, inclusive no processo de abertura de IPO.
Além das exigências da Comissão de Valores Imobiliários, relatórios e demonstrativos financeiros podem seguir templates da Generally Accepted Accounting Principles (GAAP), Financial Accounting Standards Board (FASB) e International Financial Reporting Standards (IFRS).
Governança corporativa e financeira: qual é a relação entre as duas?
No Brasil, há o Código Brasileiro de Governança Corporativa, publicado em 2016, que norteia por meio de “Princípios”, “Fundamentos” e “Práticas Recomendadas” um clima de confiança entre companhias de capital aberto e seus investidores.
De acordo com o documento, os princípios da governança corporativa são: transparência, equidade, prestação de contas (accountability) e responsabilidade corporativa.
No que concerne às finanças corporativas, o código demonstra a operacionalização da área para que a empresa seja viável financeiramente e contribua para um ambiente regulatório, que assegure direitos e deveres dos investidores e da companhia.
Segundo as diretrizes do Código Brasileiro de Governança Corporativa, as demonstrações financeiras devem ser acompanhadas por processos de auditoria interna e externa, além de uma equipe de conselheiros fiscais.
São discriminadas as atividades de controle interno e gerenciamento de risco e compliance para que haja confiabilidade e integralidade das informações, bem como proteção de todas as partes interessadas.
Diante destas recomendações, a expressão Governança Financeira e Gestão de Riscos é cada vez mais comum por sua aplicabilidade técnica nas companhias com capital aberto ou aquelas que buscam participar dos processos de IPO.
Exemplos de governança financeira
Por anos, a IRB performou acima da média do mercado, entregando um ROE três vezes maior que a média das suas concorrentes.
No entanto, uma carta da gestora, Squadra, no início de 2020, revelou os balanços patrimoniais, nos quais o ROE alto da IRB era resultado de uma manobra contábil em que passivos eram listados como ativos.
Foi constatado que por muito tempo a empresa ocultou prejuízos acumulados. Após a divulgação, as ações da IRB despencaram. A troca de CEO não foi suficiente para o mercado e os grandes investidores institucionais abandonaram o papel.
Também faz sentido mencionar a Lei Sarbanes-Oxley de 2002 dos Estados Unidos que visa a maior precisão dos controles internos, fortalecimento dos procedimentos de auditoria externa e aprimoramento dos relatórios financeiros. Considerada um dos avanços mundiais em governança financeira, esta lei foi aprovada em resposta à crise de contabilidade corporativa no grupo americano Enron que ocorreu entre 2000–2002.
Conclusão
A boa governança entrega confiança aos investidores e blinda a companhia de possíveis crises em seus papéis. A relevância da governança financeira é ainda mais pronunciada para calibrar a evolução futura da companhia e trazer evidências de produtividade e crescimento.
Para quem busca lançar a Oferta Pública Inicial de ações, é recomendável checar sua maturidade na gestão financeira, o que inclui desde à liderança, muitas vezes sendo comum a figura do CFO (chief financial officer), até um time extremamente qualificado em compliance e controle de riscos. Auditores externos vêm para gabaritar ainda mais todos os processos, bem como soluções tecnológicas que trazem agilidade e precisão aos dados e resultados.
3 Responses
[…] assim, os negócios do campo caminham cada vez mais para uma governança financeira, na qual a automatização das tarefas manuais e a análise de custos fazem parte apenas do […]
[…] IFRS 17 não terá impacto apenas nos relatórios financeiros, mas refletirá no nível de governança adotado pelo mercado de seguros no […]
[…] é referência mundial em governança corporativa e responsável pelo aprimoramento do controle interno em inúmeras companhias, mesmo aquelas que […]