A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) deve evidenciar os impactos das mudanças nas empresas e todas as adaptações que foram necessárias durante o exercício relatado.
Em 2020, o mundo foi surpreendido por uma pandemia que resultou na desestabilização da economia. A crise sanitária desdobra-se em uma alta inflacionária, retração do PIB e demais fatores que possivelmente refletirão no lucro de muitas empresas em 2021.
O atual momento também é marcado pela aceleração da transformação digital e a implantação de novos critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) que alteram a gestão e a rotina financeira de muitas organizações.
Os indicadores oriundos da DRE, margens líquida e EBITDA, contribuem para que a análise contábil ofereça insights sobre o desempenho das companhias, alertando os gestores financeiros para os ajustes de rota.
Continue a leitura deste material e entenda aspectos importantes da DRE e como eles podem ajudar em momentos repletos de mudanças e incertezas.
1. Especifique as despesas
O primeiro passo é relembrar que custos e despesas diferem segundo a normativa brasileira que rege à contabilidade.
Enquanto custo é o gasto necessário para executar a principal atividade da empresa, as despesas, apesar de contribuírem com o funcionamento, não são essenciais para a manutenção do negócio.
O gerenciamento das despesas, no detalhe, traz oportunidades de redução de gastos. Em momentos de crise, ele fornece informações relevantes e precisas de como a empresa tem reagido diante do impacto econômico.
Normalmente, em contextos instáveis, despesas inesperadas devem ser descritas como extraordinárias, deixando claro seu caráter momentâneo. O detalhamento delas ainda pode ser feito via notas explicativas.
A empresa com controle de suas finanças apresenta uma análise apurada das despesas, pois reconhece que identificar cada gasto traz segurança do que é um investimento, ou ainda, do que é passageiro e poderá ser poupado em um cenário futuro.
2. Avalie a margem líquida
A margem bruta fornece um panorama das finanças da empresa, pois ela está alinhada ao faturamento e a receita integral. Já a margem líquida desconta os gastos e tributos da organização, avaliando a lucratividade do negócio.
Com a clareza das informações sobre despesas na DRE, inclusive das extraordinárias, há mais possibilidades de análises de lucro e de como o gestor pode melhorar os resultados.
As despesas não são o único fator avaliativo que contribuem para a busca de uma maior margem líquida. A rentabilidade está atrelada à receita.
Por exemplo, para um lucro de R$1 milhão, uma empresa com R$20 milhões de receita precisa de um margem líquida de 5%, enquanto para uma receita de R$40 milhões basta uma margem de 2,5%.
Uma empresa com lucros expressivos está mais preparada para passar por cenários de instabilidade e possui chances de crescimento.
3. Opte pela margem EBITDA
O EBITDA, Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, em português) é a métrica utilizada para mensurar o lucro líquido das empresas.
Este indicador é prioritário às empresas de capital aberto, visto com atenção pelos investidores que querem acompanhar o desempenho da organização. O cálculo do EBITDA é realizado por uma fórmula que combina aspectos da DRE e do Balanço Patrimonial.
Já a margem EBITDA é um indicador operacional de rentabilidade, responsável por comparar o EBITDA da empresa com sua receita líquida obtida no período. Se a distância entre os dois for muito grande, a margem será baixa e indica ineficiência dos processos.
Margem EBITDA = EBITDA / Receita Líquida
A margem EBITDA permite comparar empresas diferentes, com foco na sua geração de lucro. O indicador não é exigido de todas as companhias, mas ele oferece um potencial analítico e de aprimoramento na gestão contábil que reflete a maturidade financeira da organização.
4. Faça a análise horizontal e vertical
Existem dois métodos utilizados como avaliação da DRE: análise horizontal e análise vertical.
Análise horizontal | Análise vertical |
Avalia o aumento ou diminuição das receitas, custos e despesas ao longo do tempo. | Compara cada conta de custos, despesas ou receita ao faturamento bruto. |
Sempre compara pelo menos dois períodos da empresa. | Análise de um mesmo período. |
Seu objetivo é evidenciar o crescimento ou redução de uma conta em diferentes momentos. | Seu objetivo é quantificar o percentual que cada conta representa do Faturamento Bruto. |
AH = [(Valor atual do item/Valor do item no período anterior) – 1] x 100 | AV = Conta / Receita Bruta (ou Receita Líquida) x 100 |
Juntas, as análises horizontal e vertical explicam variações nos gastos, na rentabilidade, entres outros pontos e fornecem informações estratégicas que possibilitam uma melhor avaliação dos resultados e auxiliam no processo de tomada de decisão.
A análise isolada de cada uma delas pode ser insuficiente para o gestor financeiro, que acaba tendo uma visão limitada do cenário. Por isso, uma boa interpretação desses indicadores pode identificar tendências e prever cenários.
5. Repense a frequência da sua DRE
De acordo com a lei nº 6.404/76 e a lei n° 11.638/07, todas as empresas brasileiras, com exceção das classificadas como Micro Empreendedor Individual (MEI), são obrigadas a elaborar a DRE após o encerramento do ano-calendário, período compreendido de janeiro a dezembro.
Contudo, nada impede que esse material seja elaborado semestralmente, a cada bimestre ou até mesmo mensal. Análises realizadas em períodos menores podem ajudar a solucionar problemas com mais agilidade e identificar oportunidades.
Conclusão
O Conselho Regional de Contabilidade São Paulo reforça que “administradores, CFOs, controllers e demais profissionais da área financeira precisarão, mais que nunca, unir-se e dar suporte às áreas contábeis na elaboração de demonstrações financeiras fidedignas e confiáveis perante tantas incertezas”.
A DRE não é apenas um retrato dos números da empresa. Todas as informações que constam nela contribuem para uma análise minuciosa do desempenho corporativo, que sob o olhar de um gestor financeiro, leva a compreensão dos pontos de melhoria e das prioridades para se alcançar uma melhor performance, independentemente do cenário.
Órgãos reguladores, seja de companhias de capital aberto ou não, exigem informações contábeis cada vez mais detalhadas e completas, que contemplem vários anos. Daí a importância das áreas financeiras atentarem-se às novas regras, utilizarem os indicadores e a tecnologia.