O que o controller financeiro precisa saber sobre blockchain?

Tempo aproximado de leitura: 5 minutos

Engana-se quem pensa que as transformações acarretadas pelo blockchain são restritas às criptomoedas e experiências desregulamentadas. Ele é uma tendência mundial que descentraliza e desburocratiza processos, elevando a transparência e a agilidade. E o controller financeiro, por exemplo, pode ser favorecido diretamente com a inalterabilidade dos dados, redução dos custos e gerenciamento de riscos

Com o uso de blockchain, as demonstrações financeiras podem ser mais simples, completas e confiáveis.

Continue a leitura para entender a relação dessa tecnologia com o trabalho do controller na gestão financeira. 

O que é blockchain?

O termo foi utilizado pela primeira vez em 2008 no artigo “Bitcoin: um sistema financeiro eletrônico peer-to-peer”. A expressão refere-se à tecnologia que permite que uma base de dados seja organizada através de uma sequência ordenada. 

O Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio esclarece que estes blocos interligados criam um histórico transparente e imutável de transações, assim como os registros nele armazenados.

Dessa maneira, ele é um sistema descentralizado, que desburocratiza muitos processos, visando agilidade, integração e transparência.

Robert Baumgartner e Clarice Nakandakare Simão Janz, da TecBan, explicam que o blockchain utiliza a tecnologia em rede com registros distribuídos, o que permite que cada transação seja visível a todos os seus participantes, democratizando os processos. A adoção dessa tecnologia é conhecida nos sistemas financeiros, principalmente via criptomoedas. 

No sistema baseado em criptomoedas, o registro das transações é mantido em vários computadores conectados em uma rede ponto a ponto e não há papel físico.

Por falta de regulamentação específica, um grande número de indivíduos tem uma percepção negativa e questionadora em relação às experiências em blockchain. Entretanto, a cada dia, com a difusão dessa tecnologia essas percepções vêm mudando.

Nos últimos anos, a tecnologia blockchain se tornou mais prática, compatível com a nuvem e focada no conceito de software como serviço. Em paralelo, governos ao redor do mundo trabalham para a sua rápida regulamentação.

A consultoria McKinsey organizou esta tabela com os cinco mitos mais comuns, que geram equívocos sobre as vantagens e limitações dessa tecnologia.

Como as empresas podem adotar essa tecnologia?

A consultoria Deloitte realizou uma pesquisa em 2021, com 1280 executivos de dez países diferentes, com o objetivo de ter insights sobre a adesão ao blockchain e ativos digitais. 

O estudo aponta que 81% dos entrevistados concordam que a tecnologia blockchain é amplamente escalável e que os ativos digitais são muito importantes.

43% dos entrevistados acreditam que o blockchain impacta diretamente os novos canais de pagamento, o que envolve as fontes de receitas de suas organizações. 

O material reforça que todos os ecossistemas financeiros, incluindo bancos, empresas de pagamentos, corporações e órgãos reguladores devem se adaptar ao blockchain.

Em um estágio mais maduro nas finanças, o blockchain influencia diretamente as transações de valores, ativos digitais e tende a reduzir a assistência de intermediários. Por estas características, as empresas podem utilizar a tecnologia em liquidações financeiras a soluções de rastreamento para as cadeias de suprimentos.

Sani Abdul-Jabbar, em artigo na Forbes, conta a experiência de uma fazenda no Brasil que usou o blockchain para rastrear cada etapa do processo, desde o campo até a logística à mesa. 

Os gestores da propriedade rural, ao demonstrarem os detalhes da cadeia, estabeleceram um relacionamento com transparência e confiança entre todos os stakeholders. Com o uso do blockchain, eles também comprovaram as boas práticas alinhadas à regulamentação internacional e, assim, puderam expandir seus serviços na América do Sul.

Jabbar menciona os usos dos Non-Fungible Tokens (NFT), conhecidos como tokens não fungíveis, que a partir da tecnologia blockchain possibilita um ativo digital único. O dispositivo pode ser utilizado para identificação de peças individuais ou objetos raros. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em um estudo de caso, acrescenta as vantagens do blockchain para uma atuação mais sustentável, pois a coleta de dados, monitoramento, relatórios podem contribuir na redução dos impactos ambientais.

Como o blockchain pode impactar os relatórios financeiros?

A migração de elementos entre planilhas ou até mesmo sistemas é passível de erros humanos que podem drasticamente impactar resultados. Com a adoção de serviços baseados em blockchain, a inalterabilidade dos dados é um dos grandes atrativos aos gestores financeiros, especialmente aos controllers.

A imutabilidade das informações traz mais segurança nas averiguações, o que leva autenticidade aos relatórios. Para ser ainda mais eficiente, os responsáveis podem habilitar diferentes áreas de acesso, viabilizando uma chave privada apenas a quem está autorizado a alterar informações. 

O blockchain permite relatórios mais transparentes, o que hoje facilita os processos de auditorias e compliance. Os registros imutáveis contribuem nas análises de conformidade e agilizam todo o trabalho, realizado por profissionais externos ou internos. 

O Blockchain Research Institute apresenta a seguinte situação para ilustrar a  utilização do blockchain nos relatórios financeiros: “Imagine que, quando uma grande empresa como a Apple vende produtos, compra matéria-prima, paga seus funcionários ou contabiliza ativos e passivos em seu balanço, o livro-caixa registra a transação e publica um recibo com data e hora em blockchain. Os relatórios financeiros de uma empresa tornaram-se auditáveis, rastreáveis e verificáveis.” 

Percebe-se, assim, que a utilização do blockchain trará ganhos não só para quem elabora os relatórios. A tecnologia oferece um novo paradigma de acessibilidade aos controllers, auditores, acionistas ou reguladores da empresa. 

O que mais o controller precisa saber?

Akash Takyar, fundador e CEO da LeewayHertz, explica que, além de segurança, transparência e auditoria, a tecnologia pode reduzir custos e contribuir no gerenciamento de riscos.

Os custos podem ser reduzidos principalmente ao evitar gastos-duplos em segurança dos dados, manutenção dos bancos, taxas de intermediários e custos de transferências bancárias. 

Em negócios B2B, o blockchain possibilita transações diretas, o que leva à eficiência e redução dos riscos como o de crédito ou falta de liquidez, por exemplo. A tecnologia traz clareza aos processos e permite um gerenciamento de riscos antecipadamente.

Como gerenciar os riscos do blockchain?

O pseudo-anonimato das partes que transacionam um blockchain representa uma possível ameaça de que a tecnologia possa viabilizar um acesso ilegal ou antiético.

Quase 70% dos entrevistados da pesquisa da consultoria Deloitte identificaram a regulamentação de segurança de dados como a maior necessidade de modificação; outros 71% identificaram a segurança cibernética como um dos maiores obstáculos para a aceitação de ativos digitais.

Um artigo também da Deloitte, publicado no The Wall Street Journal, apresenta ações que as empresas devem realizar para mitigar os riscos associados ao blockchain

  • Criar políticas de due diligence para a participação do blockchain;
  • Criar equipes experientes ou treiná-las;
  • Estabelecer equipes interdisciplinares de implementação;
  • Avaliar e aprimorar o conhecimento do conselho e da equipe de auditoria;
  • Definir graus de responsabilidade e autoridade;
  • Desenvolver código de conduta com os participantes do blockchain;
  • Estabelecer linhas de reporte claras para os participantes do blockchain. 

As mudanças com o blockchain continuarão a avançar e afetar diversas organizações. A área financeira, especialmente os controllers, precisam ter flexibilidade e agilidade para encontrar as melhores soluções nesta era de ativos digitais e blockchain sem perder tempo. 

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